Devoção à Santa Cruz brilha no coração do Sertão piauiense há 200 anos
São lendas e “casos”, atrações que levam milhares de pessoas a Santa Cruz todos os anos.
Nesse sabado, dia 14 de setembro, o pequeno município de Santa Cruz dos Milagres, distante cerca de 180 km da capital, celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. A cidade, que tem uma população estimada em aproximadamente 4 mil habitantes, fica pequena para a quantidade de fiéis e devotos que se dirigem ao município para pagar promessas e agradecer graças alcançadas pela intercessão da Divina Santa Cruz.
A formação de Santa Cruz dos Milagres enquanto município se confunde com a devoção religiosa em torno da romaria, considerada pela Igreja Católica como a terceira maior do Nordeste brasileiro, atrás somente das romarias cearenses ao padre Cícero, em Juazeiro do Norte, e a São Francisco de Assis, em Canindé. A religiosidade católica foi fundamental para a chegada dos primeiros moradores que se reuniram naquelas terras tidas como sagradas e onde mais tarde viriam a se firmar município desvincundo-se de Valença do Piauí, ao qual ainda era ligado.
Não há muitas informações sobre o início da devoção à Santa Cruz no respectivo município. O que se sabe, segundo relatos da história oral, é que em um ano, não se sabe qual, do século dezenove, em uma fazenda chamada “Jatobá”, um dia ali chegou um beato (profeta) que teria levado um vaqueiro da fazenda para o morro e retirado da mata galhos de árvores dos quais fez uma cruz improvisada.
Antes disso, porém, o beato havia pedido ao vaqueiro que cavasse um buraco no meio da rocha. O vaqueiro, naturalmente, embora tivesse tentado, não conseguiu fazer o que o beato havia solicitado. Ao voltar do mato com a cruz, o velho abaixou-se, traçou com o dedo um círculo na pedra, e com a mão toda, sacou um extrato da mesma, ficando aberto o buraco um tanto profundo e circular, como se pode ver ainda hoje ao lado da Igreja. Ali fincou a cruz e disse ao vaqueiro que, por aquele sinal, um dia aconteceriam maravilhas.
Em seguida desceu o morro e já próximo ao rio São Nicolau, mostrou-lhe uma nascente de água (olho d’água) que o vaqueiro não conhecia, apesar de tantos anos campeando naquela região. Também falou que, por aquelas águas, até milagres haveria de acontecer.
Contam que o velho depois seguiu viagem, ou que teria simplesmente desaparecido. O vaqueiro voltou aos seus trabalhos, esquecendo o incidente. Tempos depois adoece uma filhinha sua. Piorando cada vez mais, apesar das “meizinhas”, rezas e promessas, lembrou-se o vaqueiro da cruz que ficara lá no morro. Levou a criança até lá, rezou com ela e depois, no olho d’água, deu-lhe um banho e a fez beber daquelas águas límpidas. Voltou para casa com a filhinha completamente curada.
Da admiração e gratidão que o fato provocou, e de muitos outros “acontecidos”, surgiu uma devoção que já se espalhava por todo Nordeste, acrescida cada dia por mais histórias, mais lendas e mais “casos”, atração que leva milhares de pessoas a Santa Cruz todos os anos.
A história se multiplicou com o passar dos anos, assim como o número de fiéis que vão até a região. Em 2016, a Arquidiocese de Teresina entregou à comunidade um santuário para melhor receber e abrigar os devotos com capacidade para 3 mil pessoas sentadas. Um espaço todo dedicado à misericórdia divina, onde todos os anos, romeiros se reúnem durante 3 ocasiões para prestar homenagens ao madeiro santo e render graças por conquistas alcançadas.